Minha primeira formação foi Letras (Professora em Letras Modernas e Contemporâneas – UBA, Argentina). Profissão que exerci durante os últimos cinco anos (85-90) na Universidade de Lomas de Zamora, antes de residir em Salvador, Bahia, Brasil.
Minha segunda formação foi na Primeira Escola Privada de Psicologia Social fundada por el Dr. Enrique Pichon-Rivière, Buenos Aires, Argentina, durante cinco anos (de 1983 a 1987); profissão que exerci na Escola de Psicologia Social de San Martín, em Buenos Aires, nos últimos dois anos antes de estabelecer-me em Salvador.
A possibilidade destas duas formações me permitiu articular o conhecimento de duas áreas que tinham um ponto, ou tal vez mais de um, em comum: o processo de criação. Obviamente quem faz Letras não necessariamente escreve, mas tem ferramentas para compreender o processo de produção de um texto. No meu caso tive as duas possibilidades, desde os cinco anos fui alfabetizada e com nove anos começo a escrever poesia. Escrever para mim é um processo interno materializado.
Este processo está conectado a meu pai, que incentivou minha leitura, e que morre quando tinha nove anos. Tenho imagens de ser dia de domingo pela tarde, em casa, lendo nas reuniões familiares, os poemas que havia escrito. Eram poemas que falavam das visitas ao cemitério para levar flores ao seu túmulo, me perguntando pela morte e o lugar onde estaria sua alma, seu espírito ademais de estar nas estrelas, no céu. Nesse momento não sabia as razões de por que tudo isso era escrito. Escrevia porque eu gostava de escrever. Não era consciente de quanto me fazia bem, de como e quanto estava elaborando a sua morte, fazendo o luto, através da escrita.
Breve história da oficina "A arte de escrever para reparar"
Como um ritual, em janeiro de cada ano, desde 2008, realizei a oficina “A arte de escrever para reparar”. Uma experiência pessoal que me permitia integrar os conhecimentos das minhas duas formações: as Letras e a Psicologia Social pichoniana; nela ia percebendo quanto era transformadora, como resultava curadora para as pessoas que participavam e ia confirmando a eficácia da escrita para a reparação de situações de perda, de bloqueios; de dores detidas no passado, latentes; palavras nunca ditas.
No ano 2012, surge una nova demanda: dar continuidade ao processo da Oficina. Então organizo cinco novas versões da mesma e a partir da terceira trabalho com temas específicos a partir dos resultados da experiência previa: “Cenários, personagens, vínculos e metáforas”.
Em 1° de julho de 2013 foi convidada pela Direção de Gestão Cultural para fazer esta oficina no Espaço Cultural da Biblioteca do Congresso Nacional da Argentina, que se desenvolveu com alunos que participam da Oficina de Escrita e Leitura da instituição, coordenada por Adriana Agrelo.
Em agosto de 2014, estive em um congresso no Chile, ministrando uma mini-oficina de Escrita Reparadora. Em 2016, apresento o método em Tucumán (Argentina). Em 2018, foi a vez de apresentar o método em Madri, e em 2019, ainda na Espanha, fiz uma oficina em Madri e outra em Santiago de Compostela.
Escrever para reparar; reparar nos seus vários significados: re-parar, parar novamente em cenas do passado; reparar no sentido de mirar para adentro; reparar como colar os caquinhos que ficaram daquelas perdas, situações dolorosas, congeladas, que bloqueiam outras aprendizagens. Essa é nossa história.
Graciela
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