Escrita Reparadora - Turma 2

Compartilhamos aqui algumas das produções dos/das participantes dos cursos e oficinas, autorizadas pelos autores e pelas autoras.

Todas eram elas - mulheres - dialogando na diversidade de idades, formas, gostos, cadencias, pensamentos, intenções e entonações.
Se reuniram nas terças dos anos da pandemia para, entre sorrisos e soluços, tecer o sincerar, acedendo aos tesouros guardados.
Compartilharam, por um período, o vínculo da sororidade.
Agora, no dever cumprido, é hora de desfazer os laços que para algumas foram mais apertados, para outras mais amarrados e em outras somente enlaçados.
Nessa ciranda de escrituras de mulheres-meninas algumas disseram adeus cedo, outras mais tarde e a maioria prefere dizer um "até loguinho" bem breve porque a caminhada segue no fluir da vida que é feita de encontros e despedidas.

Gilgleide (Kika) de Andrade, Espanha, 03/08/2021



Viemos de muitos lugares, cada uma com seu jeito, para uma nova caminhada, onde sempre nos encontrávamos.

Depois de tantos altos e baixos, encontros, desencontros e reencontros, escritas e falas, posso afirmar que somos sobreviventes vitoriosas de uma jornada que muito nos custou. Renunciamos a tantas coisas... Porém vejo que recuperamos muitos mais com cada sorriso trocado, lágrima rolada, abraços sentidos (virtuais), palavras acolhedoras...
Hoje você me vê, assim como vejo você. Agora não é mais sobre mim ou você e sim sobre nós que juntas tecemos uma nova história no nosso processo de elevação (reparação, recuperação).

Sueli Santos, Salvador (BA), 03/03/2021


 

Nos últimos meses, através de nossas janelas retangulares, o espaço se ampliou e com nossas palavras escritas e os aprendizados compartilhados fomos tecendo fio a fio o nosso vínculo. Vínculo humano, repleto de emoções contraditórias e posturas divergentes. Composto por aquilo que é visto e dito e, também, por aquilo que é oculto e apenas sentido.

O que dizer quando um ciclo intenso vai se encerrando?

Para mim, ressoa o aprendido, aqui entre nós, de que cada ponto de chegada será sempre um novo ponto de partida.

Andréia Quintelia, São Paulo (SP), 03/08/2021


 

Juntas iniciamos uma viagem, há 1 ano atrás. Atravessamos trilhas, estradas largas, dias chuvosos e de Sol numa longa Jornada 

A cada etapa uma surpresa, muitas revelações. Dores foram se apresentando num discurso rítmico progressivo que parecia combinado

Na outra margem alegrias, afirmações e reparações também se apresentavam

Assim a arvore da amizade cresceu, deu uma sombra frondosa.

Já podemos descansar nela.

Amélia Laura Carneiro, Salvador (BA), 03/08/2021


 

No início era um misto de expectativas. Entre escrever um livro, salvar o mundo, construir uma comunidade ou poetizar a vida, elas escolheram REPARAR. Danos, memórias e até atitudes podem ser reparadas quando o sentir com afeto e amorosidade se sobrepõem aos medos, cortes e traumas. Elas seguem aprendendo a olhar a vulnerabilidade como aliada para a recuperação de um novo SER. Essa história está longe de acabar. Ao meu ver ela começa agora.

Bianca Dantas, Salvador (BA), 03/08/2021


 

Há quase um ano essas mulheres se permitiram encontrar com o intuito inicial de aprender a escrita Reparadora. O que repararam ao longo deste processo? Estavam abertas às ressignificações? Em suas múltiplas diferenças, estão compreendendo que recuperar algo está para além do processo formativo, e sim em resgates que ocorrem individualmente, coletivamente, revisitando o passado e redefinindo o presente.

Adriana Assis, Lauro de Freitas (BA), 03/08/2021


 

"Chegamos a nos perder? Quando isso se deu? Quando isso se deu? Quando achamos que o que aconteceu não diz respeito a nós? Quando deixamos de nos olharmos? Aliás, quando tivemos medo de nos olharmos? Entre nós, entre tantos olhares, nos perdemos, nos encontramos e descobrimos que os caminhos são muitos. Somos nós porque somos corajosas, autênticas, verdadeiras e mais, somos nós porque não nos alimentamos do medo de mergulhar nas águas que nos banham."

Kelly Fernandes, Salvador, 03/08/2021


Um dia fomos “elas”, mas hoje somos “nós”! 

Nos encontramos sorrateiramente e nos deparamos com uma viagem desafiante através do ensonho dirigido... subimos montanhas, enfrentamos abismos, muitas emoções vividas. Desde a primeira viagem, nossos corpos se juntaram, nossas almas se amaram e aos poucos cada uma passou a ter significado especial. O dia do encontro foi sempre esperado, algumas vezes desmotivado, quando o ritmo e tempo transbordavam a liberdade. Para algumas veio à tona a louca ideia de desistir, isso quase foi desfecho, mas houve anjos, os seres que mostraram ser possível atenuar as frustrações e avante fomos todas rumo a concretização. Portanto na vivência do exercício de que a teoria se mistura à prática, numa tomada de consciência nos tornamos turbilhantes e as vezes conflitantes, mas venceu o ressignificar. Cada uma entre nós faz crescer e conhecer o poder da recriar.

Ieda Serra, Jequié (BA), 29/08/2021


Uma vez ouvi dizer que somos irreverentes 

Irreverentes porque somos mulheres que bancam sua autoestima,

vestem o que querem, 

usam o cabelo que desejam,

falam o que pensam, rompem padrões. 

Eu diria que somos irreverentes porque também temos a capacidade de amar, acolher e aconchegar nas adversidades da vida e nas vivências diárias.

Enfim cuidamos de nós.
 

Isabel Cristina Brandão,Vitória da Conquista (BA), 31/08/2021


Fim ou recomeço?

A jornada começou há quase um ano, pouco tempo para tanta vida escrita, reescrita, em busca de reparação.
O que viemos buscar aqui. Essa é uma pergunta que próximo ao final da jornada devemos estar nos fazendo e cada resposta é única de acordo com a singularidade de cada uma de nós.

Os heróis míticos ao fim das suas jornadas levam para casa um troféu. Eu sempre vivi para reparar, desde a mais tenra infância quando me rebelava contra valores familiares reacionários, passando pelos “anos de chumbo”, quando me envolvi ativamente em movimentos contra a ditadura, atravessando os anos 80 onde se presume que iniciou a Nova Era com sua busca de uma ecologia profunda, interna e externa, sempre estive nas fileiras da luta pela liberdade de expressão, envolvida com ações de amparo e cuidado. 

Escrever era uma paixão recolhida, que nos últimos anos vinha se assanhando, e mais assanhada ficou quando viu que podia dar as mãos à reparação e usá-la como mais um instrumento da sua missão de vida. Experimentei e comprovei como a escrita pode ser terapêutica.

Hoje termino esta jornada carregando comigo no embornal muitas vozes, vozes de mulheres corajosas, aventureiras, em busca de si mesmas e de suas expressões.
Levo também estampado no peito as minhas escritas, elas são o meu troféu, uma espécie de diploma que vem assinado pelo Amor.
Levo, também, agradecimento pela coordenação que preparou o terreno para que pudéssemos semear. Levo a certeza de que muito brotará nesse terreno fértil. Já se apontam novas jornadas a trilhar.

Erros houveram, mas sigo sem culpa, porque  como diz Manoel de Barros: Fazer poesia é errar bonito. Eu acrescento: viver também é errar bonito. E sempre teremos mil noites para reparar. 

Amargarida, Rio de Janeiro (RJ), 03/08/2021


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