Fazedoras de Palavras - Oficina Terapêutica Continuada

Compartilhamos aqui algumas das produções criativas do grupo "Fazedoras de Palavras", autorizadas pelas autoras, oficina terapêutica continuada criada em 2012 e hoje realizada de maneira on-line.

COMEÇOU ASSIM

Em 2012, algumas pessoas dos quatro primeiros grupos da oficina "Fazedoras de Palavras" trazem a demanda de dar continuidade num trabalho permanente, onde pudessem seguir escrevendo. Surge assim um grupo de seis mulheres que Graciela acompanhou uma vez por semana, durante sete meses, na tarefa de escrever para resignificar. Tendo  apresentado suas produções no formato de livro artesanal, como também em formato de poesia falada, em dezembro/2012, no encontro para devolução do Relato da Experiência apresentado nas VI Jornadas en Homenaje al Dr. Enrique Pichon-Rivière, IV Jornadas Latinoamericanas de Psicologia Social - Área: Saúde Mental e Criatividade - Título: "A Arte de Escrever para Reparar" (G. Chatelain).

Em 2020, com a pandemia e os trabalhos presenciais suspensos, Graci passa a oferecer as oficinas on-line, interessando a um novo grupo que inicía a ofcina terapêutica continuada em maio daquele ano e continua ativa. A possibilidade de atender a pessoas interessadas em fazer as oficinas que moram em cidades no Brasil ou no mundo se amplia. A continuidade do trabalho terapêutico nesse grupo também.

 


Destacamos algumas das produções dos participantes da oficina on-line, lembrando que todas estão autorizadas pelos autores e pelas autoras


O Colo do Pai

O cuidado de seu pai com as pernas dela era um doce alento na chegada da Escola. Pacientemente, ele retirava devagarzinho as meias brancas do uniforme que iam até o joelho, justo para protegerem suas pernas das picadas dos maruins.

A cada picada os comichões e os calombos se sucediam até se transformarem em feridas. Ah, e como doía retirar as meias já grudadas nos cascões das feridas já inflamadas...

Ela sentava numa cadeira e seu pai num tamborete bem baixinho para que seus pés pudessem descansar nos joelhos dele. E aí  então a alquimia se fazia à partir da mistura de líquidos, unguentos e polvilhos com altas doses do mais puro querer bem.

Diariamente, naquelas amorosas seções de cura, ela e seu pai trocavam dor e chororô por afeto, aconchego e consolo.

Somente muito tempo depois, talvez já na maturidade, ela tenha enfim se dado conta de todo estímulo e força que recebeu daquele colo tão protetor.  

Vera Silva


A palavra que acalmava

Ela teve momentos muito difíceis quando decidiu se libertar das amarras que ela mesma de certa forma colocou. Sentia o peso da responsabilidade do que vinha pela frente e não podia negar que o medo aparecia. Nessas horas ela queria colo, acalento, segurança e por várias vezes entrou numa igreja para conversar com Deus. Chorava muito e conseguia se acalmar ao ouvir seu pensamento que dizia: você é forte e corajosa, você consegue. Olhar o passado pode ser gratificante ou assustador. Para ela foi gratificante pois ao escrever a palavra que acalmava, percebeu a importância de ter aberto a gaiola que ela mesma entrou e fechou. 

Maria Cristina Menezes de Sá


O que é colo?

É aquele lugar que chegamos devagar e queremos ficar, e não fugir de tão aconchegante. Muitas coisas lembram esse colo e o sofá é uma delas...

 

O sofá 

De Napa na cor preta, de pano com estampa ou creme acolchoado, pois, de tempos em tempos era  reformado, nem por isso deixou de se tornar o senhor da casa, este se sentia, e se divertia com as brigas para se aconchegarem nele nem sempre dava, o lugar era de quem sentasse primeiro.

Só que naquela casa ninguém gostava mais dele do que aninha, como grandes amigos que eram o incluia em tudo: na infância assistiam os desenhos mais legais, na adolescência o primeiro beijo roubado pelo namorado, depois as noites sem dormir por causa do vestibular, o primeiro emprego que não vinha até quando foi demitida ele estava lá... 

Sempre servia de colo, um lugar para chorar e para rir, principalmente quando dava aquela vontade danada de ficar quietinha ou muitas vezes até de fugir, era só olhar para ele e a mágica acontecia, é como se ele entendesse o que ela  sentia.

Ele era maternal e servia como um grande colo porque não um útero? Onde as vezes aninha só queria ficar naquela posição fetal encolhida sendo acolhida recebendo todo carinho do mundo. 

O tempo passou:

E em uma manhã aninha acordou diferente, tinha entendido que tinha que seguir em frente sozinha a idade pesou e não fazia mais sentido aquela amizade e o sofá se tornou só mais um  móvel, ele não era mais uma cama, de madeira acolchoada que podia dormir ou uma grande mãe  qual tinha substituído para pedir colo quando queria.

Se dando conta que não era mais criança, tirou a fantasia e foi tomada pela realidade, sentindo muita dor, a principio negou depois deixou vir a raiva de vez enquando até tentava barganhar e pensava: olha ainda da para ficar aqui só mais um pouquinho, mas, não teve jeito não sentia mais o mesmo conforto e aconchego e foi com muita tristeza e gratidão que o sofá se tornou obsoleto e foi esquecido, e um laço foi rompido, ficando entendido que o luto foi feito pela morte de um grande amigo.

Priscila França


Rituais

Seus rituais segue(m)um ritmo bem diverso que sempre foram. Hoje atendem mais as demandas internas, (in) dependem dos seus humores. Celebra o acordar e se diz: O que temos para hoje? Como a criança, cuja mãe é ela mesma, busca o prazer no seu fazer diário nos seus rituais de purificação, nutrição, celebração. Escuta a melodia e dança no seu ritmo.

 

O que não queria ver

Sempre quis ver tudo por fora e por dentro, esmiuçar, revelar e mostrar para o outro, ainda que este não quisesse ver. E foi justamente o outro que lhe deu o contraponto, se deu conta então que cada olhar carrega em si uma vista de um ponto, de um lugar. E foi libertador aprender a olhar nas tantas outras direções apontadas pelo(s) tantos outro(s) que cruzaram o seu caminho, poder deixar-se carregar por estes novas veredas, ampliando sua visão sobre si mesma.

Soane Matos


O dia em que a terra parou

Parou? Parou por quê? Ao meio de algo inusitado, muita aflição e questionamentos. O que fazer, o que pensar?

Será uma pausa? Haverá continuidade para todos? A inércia... O descompasso e o passo, dentro e fora. Incertezas. Tudo fervilha, nada se movimenta. Quantas faltas!  Abraços, aconchegos... Quantos buracos, espaços incompletos? Quantas perdas! A cada instante menos um, menos um no planeta, tantos, não conseguimos computar. Muitas dores. Aprendizados? Ganhos? A vida pede calma! Sem controle, sem segurança, sem fantasia! Muito sentimento, sensibilidade, permissão, flexibilidade, olhar mais amplo, cuidados. Momento de reestruturação, ressignificação, colocar no centro o que realmente importa. Seguir a nova ordem, em nova direção, viver...amar...acreditar, é hora de cantar... “dias melhores para sempre” ...

Joilma Freitas

 


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